Banner 30 agosto, 2024
por Redação PerifaCon

A mudança de lugar do Museu das favelas: o que perdemos?

Como a ida para o “Pateo do Collegio” afeta o museu

 

Texto por Letícia Ferraz

Quase completando dois anos, o Museu das Favelas muda do Palácio dos Campos Elíseos para uma nova localidade. Mas afinal, o que isso significa para o museu? A mudança de fato faz alguma diferença? 

O Museu das Favelas é um espaço de pesquisa, preservação, comunicação e produção de potências criativas vindo diretamente das favelas. Trabalhando com a premissa de reparação, busca empregar em todos os níveis da cadeia pessoas de periferia. Pensando em museus, o das Favelas é uma instituição nova, tendo sua inauguração acontecido em 25 de outubro de 2022.

Contexto do território

A primeira casa do Museu das favelas foi localizada na região dos Campos Elíseos, primeiro bairro planejado da cidade de São Paulo Sendo formado por quarteirões com ruas bem planejadas, é perceptível que o bairro foi inicialmente pensado para abrigar a elite, principalmente cafeeira e política do século XIX.

O Palácio dos Campos Elíseos foi planejado por um arquiteto alemão que baseou a arquitetura do imóvel com referências majoritariamente europeias, com cristais venezianos, porcelanas francesas e bronze estadunidense. Foi projetada para ser morada do cafeicultor e político Elias Antônio Pacheco e Chaves.

Após sua morte, o Palácio dos Campos Elíseos de fato ganha esse nome por ter sido comprado pelo governo e ter virado moradia para os governadores do Estado de São Paulo, tendo nomes de destaque como Júlio Prestes e Washington Luiz. Após esse período, ocorreu o tombamento em 1977 e desde então é um prédio usado para repartições diversas do governo, somente em 2022 destinado para o Museu das Favelas.

Cenário atual

Apesar do Museu sair de um endereço histórico para ocupar outro do lugar histórico, agora em processo de mudança para Pateo do Collegio, mobilizada pelo governador do Estado, Tarcisio Freitas (REPUBLICANOS) , o contexto divide opiniões, tendo defensores e opositores.

“Embora a gestão do Museu das Favelas argumente que a mudança de endereço é necessária para o desenvolvimento da instituição, essa decisão levanta muitas dúvidas sobre as verdadeiras intenções por trás dessa escolha. A nova localização parece não dialogar com o entorno nem com a comunidade que o museu pretende representar e valorizar, o que torna essencial a realização de escutas ativas da população nesse processo” – Henry Castelli

O Palácio dos Campos Elíseos só era efetivamente frequentado pela população periférica enquanto o Museu das favelas estava no local. Com a mudança, essa ruptura histórica deixa de acontecer, e o lugar volta a ser frequentado pelo público que foi criado para servir.