Banner 15 julho, 2024
por Giulia Cardoso

Robinho Santana: representando Diadema através do muralismo 

Um artista que permeia pelas pinturas sobre tela e grandes obras em paredes

 

“Todo o meu trabalho tem a ver com sensibilidade e sentimentos. Coisas que eu vivo na vida real, tudo que eu tenho que colocar para o mundo. É sobre a minha verdade, coisas que eu acredito e vivi ou pessoas muito próximas viveram”. 

E com estas palavras iniciamos uma conversa com Robinho Santana, um artista versátil a qual esse texto trata. Ele estava usando um boné branco, moletom cinza confortável e permanecia em seu atual ateliê com chão de taco e paredes brancas, local este, que é dividido entre ele e mais 4 artistas.

Nascido em Diadema, teve seu primeiro contato com a arte através de desenhos que passavam na televisão, obras como ”Cavaleiros do Zodíaco” e “Doug” foram citadas para exemplificar. Sua mãe e a música também foram fatores determinantes, a primeira pintava panos de prato e o segundo o possibilitou a ter uma banda de Funk Rock. Tudo isso estava ligado a um ideal: faça as coisas que você deseja, mesmo que não saiba como.  

Uso das artes plásticas e sua versatilidade  

Em seu instagram, é nítido que o trabalho de Robinho se baseia em dois tipos de artes: a pintura a óleo e o muralismo. Mas, na realidade, este artista gosta de trabalhar com diversas plataformas, indo desde o quadro até a serigrafia.”Tudo que vem na minha mão, eu tenho que colocar um desenho ali. Eu sou apaixonado por arte mesmo, independente do que ela seja”, conta.

Falamos sobre as artes preferidas e como isso é uma tarefa complicada. Normalmente, o artista gosta de escolher as mais novas, pois a técnica utilizada e a coragem para experimentar o novo estão mais afloradas. Outro critério é o valor significativo da obra, por exemplo, temos o prédio do Minhocão, aqui de São Paulo. Essa obra veio após “Deus é mãe”, mural feito em um grande prédio de Minas Gerais, que quase causou a prisão de Robinho e outros colegas. “A partir da acusação da polícia de Minas Gerais, a gente foi convidado para fazer isso aqui em São Paulo. Juntou a pichação com a minha arte, então, eu gosto muito do significado desse trabalho, sabe?”, relata. 

Obra “algo sobre nós” de Robinho Santana e os artistas Bani, Tek,

Passar por diversos tamanhos e materiais não é um problema para o Robinho. Na realidade, a parte mais complicada de fazer um muro está na burocracia para aprová-lo. Em relação a receios como ficar torto ou como pintar um grande prédio, ele conta que existem diversas técnicas que o ajudam. “Os meus trabalhos, eu pinto eles em uma tela menor depois eu reproduzo na parede, então não tem muitas diferenças, só é maior, né?”. 

Ele complementa:

Eu sinto isso, às vezes ,os trabalhos menores, eu tenho mais dificuldade do que um trabalho maior, porque tem o “lance” de ser minucioso. Agora, pintando na parede você pega uma tela e dá uma pincelada gigantesca e na parede e na tela é sempre devagarinho e pequenininho”

Terminar uma arte, também é um momento muito importante, pois agora elas estão eternizadas. Isso significa olhar para elas sempre que passar pelo o local. O artista, ao terminar seus trabalhos “para e fica olhando”, permitindo atravessamentos que vão desde não acreditar que fez uma coisa daquelas até lembrar que veio de um bairro pequeno de Diadema e agora pode fazer trabalhos gigantescos no centro de São Paulo.

“Faço questão, sempre que passo nos lugares que eu tenho um trabalho, de olhar e mergulhar, lembrar de quando foi feito”

Fazer primeiro e aprender depois

Todas essas atividades feitas pelo artista não foram aprendidas em cursos caros, mas sim com colegas. Ele, que sempre foi apaixonado pela imagem, teve vontade de experimentar primeiro, e assim, conseguia compreender por completo a sensação de “como é fazer uma coisa”.

“Tanto o grafite quanto a pintura de prédio e tela eu não fui aprender antes, eu comecei a fazer pela paixão.”  – Robinho Santana

Viver assim o fez refletir sobre como as pessoas costumam esperar pela aprovação de alguém para aceitarem que seu trabalho está bom. Quando, na verdade, o que mais deveria importar é sobre o quanto essa arte fala da vida e vivências daquela pessoa. “Não importa se é feita de tinta óleo, com a marca mais cara do mundo, ou é um desenho feito num papel guardanapo. Se tem uma verdade ali, uma poesia, uma história, para mim, as duas têm o mesmo valor. Tem muito a ver com o que você quer dizer”, diz o artista

Arte e escrita 

Quem acompanha Robinho Santana consegue notar um diferencial: Ele se utiliza da escrita poética nas legendas das suas postagens. Ao notar esse detalhe perguntei o motivo, ele diz que serve para complementar. Não há intenção de explicar o que a arte significa, mas ampliar o que ele quer passar. 

“Eu gosto muito da escrita. Sempre gostei, desde moleque”, diz o artista. Além disso, revela que não há uma ordem, ele anda com um sketchbook e diários onde registra suas ideias e depois as transforma em obras. 

Inclusive, quando decidiu ir a um Slam, presenciou um menino recitando algo que, mesmo não lembrando as palavras, “foi tipo um soco”. Desde então, ele sempre tenta passar sensações em seus trabalhos. “Sou apaixonado pela sensação. Eu queria passar essa sensação a partir do meu trabalho para que outra pessoa sentisse isso?”.

Vivendo em Diadema e sua primeira exposição

O município de Diadema foi onde Robinho Santana construiu uma crosta. Crescer neste lugar, principalmente nos anos noventa, foi algo que o fortaleceu como pessoa e como artista.“Eu sou grato pelo aprendizado de ter vindo de lá. Diadema era conhecida como uma cidade política […] Então, ela tem total relação com meu trabalho teórico hoje em dia. Quando eu falo que meu trabalho tem haver com política também, ve, dessa base que eu tive em Diadema.“

Curiosamente, não foi neste local que ele fez sua primeira exposição individual. Na verdade, ela ocorreu dentro da ONG Ação Educativa, na cidade de São Paulo. Ele relembra que trabalhava em outros lugares, mas fazia arte “no tempo vago” e foi então que ocorreu o convite: 

“No dia da abertura, foram 400, 300 pessoas e aí eu entendi que o que eu fazia tinha um sentido,sabe? Não só para mim, mas para outras pessoas. Então, ali abriu possibilidades para eu seguir na vida e aí ser artista. Agradeço muito a Ação Educativa.”

Essa repercussão e reconhecimento o fizeram repensar sua carreira. Hoje, Robinho não se vê mais em trabalhos convencionais e sim debruçado em sua arte sempre com coragem para aperfeiçoá-la e reconstruí-la. 

E aí? Gostou do Papo com o Robinho Santana? Ele estará participando da Perifacon 2024, mais especificamente no dia 27/07 (sábado) com um bate-papo sobre Pixo, Graffite e a Cidade.