Banner 21 dezembro, 2022
por Raphael Guimarães

Como pode ser o filme do Chico Bento?

Filme inspirado em personagem pode seguir diversos caminhos Durante a CCXP 2022 foi anunciado (no painel da Mauricio de Sousa Produções) que o filme live-action do Chico Bento pode chegar em 2024. Sendo o primeiro spin-off de Turma da Mônica a vir para os cinemas, não foram divulgadas muitas informações sobre o longa mas podemos […]

 

Filme inspirado em personagem pode seguir diversos caminhos

Durante a CCXP 2022 foi anunciado (no painel da Mauricio de Sousa Produções) que o filme live-action do Chico Bento pode chegar em 2024.

Sendo o primeiro spin-off de Turma da Mônica a vir para os cinemas, não foram divulgadas muitas informações sobre o longa mas podemos sonhar: quais caminhos uma adaptação dos gibis do Chico pode seguir?

A primeira coisa que nos vem á cabeça é que o filme pode se basear em algumas das graphic novels do selo Graphic MSP que foram dedicadas ao personagem, da mesma forma que as graphics do Astronauta (por Danilo Beyruth) inspiraram a série animada em produção pela HBO Max e as graphics Laços e Lições forneceram as premissas dos live-actions dirigidos por Daniel Rezende.

A esperança de boa parte dos fãs é que a graphic novel Chico Bento – Arvorada (de Orlandeli) sirva de base para o filme.

Com ilustrações que evidenciam a emoção trabalhada na trama, Arvorada usa um ipê amarelo como símbolo da relação de Chico com sua Vó Dita, trazendo uma mensagem sobre luto, afeto e a apreciação de cada momento da vida. Um filme de Arvorada precisaria contar com uma fotografia sensível e um público disposto a chorar muito: porque é triste, hein?

A HQ ainda tem a sequência “Verdade“, onde a temática emocional se mantém com Chico ensinando a um homem amargurado vindo da cidade grande a verdadeira importância de dar valor á vida (o que ecoa com a mensagem da primeira graphic).

Seguindo a tendência emocional de histórias “para chorar”, uma outra ideia que os estúdios MSP podiam seguir é a de fugir das graphic novels e saltar para os gibis clássicos, contando a história de Mariana, irmãzinha de Chico.

Já considerada uma história clássica do personagem, Uma Estrelinha Chamada Mariana fala da irmãzinha caçula de Chico que, ainda bebê, fica muito doente e morre. Mesmo que o tema “morte” possa parecer pesado para um filme de público infantil, é inocente e otimista a mensagem de que Mariana nunca deixou Chico e seus pais, estando presente em forma de estrela.

Assim sendo, uma trilogia cinematográfica com Arvorada, Verdade e Mariana seria bastante coerente e arrancaria lágrimas de todas as idades.

Agora, caso a intenção seja fazer o público chorar de rir e não de tristeza, uma boa ideia é adaptar a primeira graphic novel de Chico, Pavor Espaciar. Com arte e roteiro de Gustavo Duarte, o quadrinho acompanha Chico, seu amigo Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giselda sendo abduzidos por alienígenas.

A temática fantasiosa é figurinha carimbada nos gibis tradicionais do Chico, seja com intervenções alienígenas (como minha favorita O Ovocausto) ou com lendas folclóricas contadas pela Vó Dita.

Caso o orçamento da produção não permita que esses elementos sejam incluídos no filme por meio de efeitos especiais, nada impede que sejam usados efeitos práticos de animatrônicos ou fantoches (como está sendo feito com o Bidu na série Franjinha e Milena em Busca da Ciência).

Uma das histórias mais famosas com o personagem é Chico No Shopping, onde o personagem se aventura nesse grande centro comercial da cidade grande ao lado de Zeca, seu primo paulista.

A história é fenomenal, seja no gibi ou na adaptação animada, mas não acho que seja a melhor escolha para a estreia do personagem em live-action. A graça de Chico no Shopping (e qualquer história com o primo Zeca) é justamente o humor de contraste, colocando um personagem que estamos acostumados a ver no interior precisando interagir com a vida urbana.

Em um filme de estreia, ainda não há esse costume então talvez o ideal seja guardar essas tramas para o futuro. Bem parecido com o que fizeram na série Cocoricó, que só levou seus personagens para a cidade grande depois de anos com o programa se passando na fazenda dos avós de Júlio.

O ideal para um primeiro filme live-action do Chico Bento é focar em histórias mais cotidianas do universo rural da Vila Abobrinha. Queremos ver o Chico roubando goiaba do Nhô Lau, nadando no ribeirão com a Rosinha, pescando com Zé Lelé, frequentando a missa do Padre Lino e indo mal em provas da professora Marocas.

Focar no dia a dia da roça ajuda a construir o universo Chico Bentiano e estabelecer traços fundamentais da personalidade do personagem. E isso já foi feito em diversos desenhos animados que podem servir de referência, como os clássicos Chico Mico, O Canto do Sabiá, O Causo das Formigas e, claro, Óia a Onça.

Para imprimir isso no cinema, as referências poderiam ser direções calmas e artisticamente respeitosas com os arquétipos retratados (porque sabemos que o Chico Bento, enquanto símbolo, pode se transformar rapidinho em estereótipo), como a direção de Walter Salles em Central do Brasil e a de Gabriel Martins em Marte Um (que já foi comentado aqui não uma, mas duas vezes).

Ao mesmo tempo, o filme não pode ser maduro demais e correr o risco de não ser divertido ou entusiasmante. O elenco (e a trilha, os figurinos e a cenografia) precisa ser idealizado e coordenado com cores, vivacidade e uma energia de “brincadeira de criança” parecida com os trabalhos de Cao Hamburger em Castelo Rá-Tim-Bum, de Caru Alves de Souza em Meu Nome é Bagdá e de César Rodrigues em Um Menino Muito Maluquinho.

O importante é que a verdadeira personalidade de Chico esteja presente no longa. Alguém que sabe aproveitar as tranquilidades do interior, deitado na rede e nadando pelado no rio mas que também seja repleto de energia, empolgado e disposto a comprar qualquer briga.