por Raphael Guimarães
Avatar: O Caminho da Água tem o melhor vilão do ano
O retorno de Coronel Quaritch e sua importância para a trama Aos 45 do segundo tempo e faltando pouquíssimo para o final do ano, o lançamento de Avatar: O Caminho da Água fez com que todos os cinéfilos ao redor do mundo atualizassem suas listas de “melhores do ano”. Não faltam motivos para elogiarmos o […]
O retorno de Coronel Quaritch e sua importância para a trama
Aos 45 do segundo tempo e faltando pouquíssimo para o final do ano, o lançamento de Avatar: O Caminho da Água fez com que todos os cinéfilos ao redor do mundo atualizassem suas listas de “melhores do ano”. Não faltam motivos para elogiarmos o filme. Os efeitos especiais, a trilha sonora, a condução rítmica da trama, tudo é merecedor de aplausos. Entre tantos pontos positivos, um que talvez não esteja sendo tão comentado quanto deveria é o vilão do filme; o Coronel Miles Quaritch.
Competindo contra alguns filmes de heróis e vários filmes de terror, com pouco esforço Avatar conseguiu apresentar o melhor vilão de 2022. Eis os motivos:
O Retorno – O renascimento dos vilões recorrentes
Se você assistiu o primeiro filme, você deve se lembrar que o vilão Coronel Miles morre. Então, de que forma ele volta como vilão para O Caminho da Água, e ainda se destacando tanto ao longo do filme?
Na trama, descobrimos que antes de morrer (junto a vários dos soldados que o acompanhavam), o Coronel havia feito uma espécie de backup de sua consciência, suas memórias e sua personalidade que seriam transferidas para um avatar de Na’Vi caso morresse na missão em Pandora. Ao despertar em um corpo alienígena mais forte, mais ágil e melhor adaptado ao solo alienígena, o Coronel possui um único objetivo: se vingar de Jake Sully.
Para iniciar, isso já funciona como uma boa ferramenta de história. O fato do Coronel assumir a forma física do inimigo que o derrotou no filme anterior ajuda a reforçar a imagem dos Na’vi como um povo superior aos terráqueos, só que dessa vez deixando claro que a questão não é física mas sim ideológica. O que os diferencia é a conexão com o planeta, a fauna e a flora. Algo que nem voltar dos mortos fez o Coronel adquirir.
Também é positivo que tenhamos o mesmo vilão de volta. Em uma época de filmes de herói com grande rotatividade de personagens e a obrigação de causar efeitos intensos dentro de seus universos, os vilões estão morrendo cada vez mais. O Caveira Vermelha, por exemplo, é o melhor vilão do Capitão América, foi gasto no primeiro filme e nunca mais o vimos em ação no MCU (a não ser aquela ponta nos últimos Vingadores, mas é diferente).
Vilões recorrentes são raros hoje em dia e faz muita falta um vilão recorrente que se oponha ao herói ao longo de toda uma franquia, como foi com Darth Vader na trilogia original de Star Wars ou com Voldemort na saga Harry Potter. É feliz que em Avatar tenhamos a chance de ver o mesmo vilão duas vezes, deixando uma rivalidade anterior viva e dando chance para novos desenvolvimentos de velhos personagens.
Stephen Lang – Impacto visual e emocional do ator
Além disso, a volta de Coronel significa a volta de Stephen Lang estrelando no longa, o que é um ganho. Desde o primeiro filme, um dos elementos mais potentes é a performance de Lang como o Coronel. É como se o ator tivesse nascido para interpretar um militar. O alcance dramático de Lang materializa em tela alguém que transmite ao mesmo tempo admiração e medo pelo poder e experiência tática que emana e também repulsa por sua postura insensível e despreocupada com as coisas que a trama de Avatar tenta estabelecer como importantes.
Sem falar no visual: o design de personagem do Coronel consegue se destacar mesmo em filmes com tanto apelo visual como são Avatar e O Caminho da Água. Não é a toa que depois de Avatar, o ator chegou a trabalhar novamente em projetos que se aproveitavam de sua imagem ameaçadora e intimidadora como militar (ou ex-militar, no caso do excelente O Homem nas Trevas).
E obviamente, a atuação de Lang é potente em níveis emocionais, permitindo que ele se conecte com alguns personagens e passe pelo processo ideal de aprendizado. É como se ele enfrentasse o próprio arco e aprendesse os ensinamentos sobre família, preservação e respeito com o mundo, mostrando para o espectador que o herói estava certo desde o início (e essa é só uma das ferramentas que o filme usa para fazer isso).
Todos contra o Coronel – um inimigo comum
Cumprindo o papel de vilão clássico, o Coronel é usado como uma persona de tudo que é errado e mau, permitindo que a construção de laços entre os personagens bons (os que já conhecemos e os novos grupos de Pandora que a sequência apresenta) seja intensa e caminhe na mesma direção. Dois povos estão unidos para enfrentar o mesmo inimigo que, por razões egoístas, explora os recursos de sua terra, ameaça seus habitantes e ataca seu ecossistema. Não é qualquer personagem que sustenta esse nível de valor antagônico e ainda consegue ser carismático. Mas o Coronel consegue.
Em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, também de 2022, uma dinâmica parecida é estabelecida entre os povos de Wakanda e Talocan, que precisam se unir para se defender de ferramentas estadunidenses que tentam roubar seus recursos naturais para ganhar vantagem sob ambas as nações. É válido lembrar que em Pantera Negra 2, o objetivo é discutir solidariedade anti-racista e desenvolver os heróis como personagens anti-imperialistas.
Porém, boa parte da crítica e do público apontaram como um dos defeitos de Wakanda Para Sempre que os conflitos entre Wakanda e Talocan ocupassem tanto tempo do longa, a ponto do papel dos Estados Unidos como inimigo comum ser deixado de lado, e consequentemente enfraquecido, da metade para o final do filme.
Isso não acontece em Avatar, o coronel é o vilão do começo ao fim. Não chega a ser muito diferente da sua figura antagônica do primeiro filme mas enfrenta abordagens conceituais de personagem que servem a trama de forma tão coesa que me deu vontade de beijar o James Cameron na boca.
E cá entre nós, não dá para esperar menos que isso de um cineasta como James Cameron. Você pode reclamar da estrutura básica de roteiro de seus filmes ou do quão megalomaníaco ele pode parecer ás vezes, mas uma coisa que o homem sabe fazer é um bom vilão. E depois subverter o vilão que ele mesmo criou numa sequência, mudando tudo. Foi com Cameron que vimos o T800 de Arnold Scharzenegger migrar de robô assassino com toques de terror para um protetor herói da resistência de John Connor, na franquia O Exterminador do Futuro.
Nos resta esperar que nos próximos filmes da franquia Avatar o vilão (que ninguém tem certeza de quem vai ser) continue sendo um ponto de destaque tão interessante quanto foi nos dois primeiros.